domingo, 2 de dezembro de 2007

«Caixilharias»

Estava aqui a olhar para as arestas da caixilharia de alumínio que compõe a janela do meu quarto quando me lembrei do senhor Zé.

O senhor Zé, responsável pela maior casa de caixilharia de alumínio de Luanda, era um sujeito impecável e muito afável, mas por vezes tinha comportamentos estranhíssimos.
Sempre que íamos em caçadas pelo Lobito adorava falar – e muitas vezes até gritava entusiasticamente - sobre o quanto era importante saber trabalhar o alumínio "de forma a isolar do frio! É que trabalhar as arestas é uma arte!", o que era uma chatice porque espantava a caça toda.
Lembro-me bem de em certo dia ter na mira uma Popota, já adulta, quando o senhor Zé exclamou que "se as portas não ficam bem juntas a borracha não sela...e entra o frio!!!!" e a sacana fugiu.
Estávamos em mil-nove e sessenta e sete.

Mas sim, trabalhar as arestas é uma arte, reconheço-o hoje...
Esperem, não era nada o senhor Zé, era o Chico preto.
Era mesmo esse! Esse é que trabalhava o alumínio como ninguém!
Morava na rua de baixo e tinha uma filha bem engraçada...era o Chico preto.

O senhor Zé era uma besta...